O que é Nitrato e o que ele causa na Água e na Saúde dos Peixes?
Quem trabalha com piscicultura, aquaponia, hidroponia ou até com um simples aquário em casa já ouviu falar do tal nitrato. Ele aparece nos testes de água, surge nas conversas entre aquaristas, vira motivo de dúvida para iniciantes e, em muitos casos, é o culpado pelas folhas amareladas das plantas e pelos peixes que não parecem estar “no seu melhor dia”.
Mas afinal, o que é esse nitrato? Por que ele aparece em TODOS os sistemas aquáticos? E até que ponto ele é perigoso para seus peixes e plantas?
Respira fundo e vem comigo. Vou te explicar tudo de forma clara, sem complicação, como se estivéssemos conversando na beira de um tanque.
Afinal, o que é o nitrato?
Vamos começar pelo básico. Nitrato (NO3⁻) é a forma final do famoso ciclo do nitrogênio, que acontece naturalmente em qualquer ambiente aquático.
O processo funciona assim:
- Peixes comem → produzem fezes → geram amônia (NH3)
A amônia é extremamente tóxica. - Bactérias Nitrosomonas transformam amônia → nitrito (NO2)
O nitrito também é muito tóxico. - Bactérias Nitrobacter transformam nitrito → nitrato (NO3)
O nitrato é MUITO menos tóxico, mas isso não significa que ele pode subir indefinidamente.
Esse caminho — de amônia para nitrito e de nitrito para nitrato — é a base da vida nos tanques, biofiltros e sistemas de recirculação.
A boa notícia é que o nitrato é a forma mais segura entre as três. A má notícia é que, se ele acumular demais, começa a trazer problemas sérios.
Por que o nitrato aparece na água?
Porque ele é inevitável. Não importa o que você faça: sempre que houver peixe comendo e respirando, haverá produção de amônia… que vira nitrito… que vira nitrato.
O nitrato é o lixo final do metabolismo dos peixes. E assim como o lixo da nossa casa, ele precisa ser retirado ou reciclado.
Em aquários e pisciculturas, isso é feito com:
- trocas parciais de água
- plantas aquáticas
- sistemas de desnitrificação
- aquaponia (a melhor reciclagem natural)
Se você não faz nada disso, o nitrato só vai aumentando.
Níveis ideais de nitrato: quanto é seguro?
Para deixar bem claro, aqui vai uma faixa de valores:
- 0 a 20 mg/L — excelente, seguro e ideal.
- 20 a 40 mg/L — aceitável, mas já requer atenção.
- 40 a 80 mg/L — estresse leve a moderado nos peixes.
- Acima de 100 mg/L — perigoso, especialmente a longo prazo.
- Acima de 150–200 mg/L — tóxico; peixes adoecem com facilidade.
Cada espécie tem sua tolerância, mas no geral, esses números valem para a maioria dos peixes ornamentais e de criação.
O que o nitrato em excesso causa nos peixes?
Agora vamos ao ponto-chave:
- O nitrato é silencioso.
- Ele não mata de repente como a amônia ou o nitrito.
- É mais sutil, mais traiçoeiro, e por isso muita gente subestima.
Aqui estão os efeitos mais comuns do nitrato elevado:
1. Estresse crônico
O peixe parece normal, mas:
- come menos
- fica mais parado
- apresenta coloração apagada
- responde devagar aos estímulos
Esse estresse reduz a imunidade e abre portas para o surgimento de doenças.
2. Maior incidência de doenças
Peixes com nitrato alto ficam muito mais propensos a:
- íctio
- infecções bacterianas
- doenças na pele
- parasitas diversos
É como se o sistema imunológico ficasse lento.
3. Dificuldade respiratória
O nitrato altera a capacidade do peixe de absorver oxigênio adequadamente.
Eles começam a:
- boquejar perto da superfície
- ficar nas bombas procurando água mais oxigenada
- evitar esforço desnecessário
4. Problemas reprodutivos
Em peixes de criação, nitrato alto reduz:
- fertilidade
- taxa de eclosão
- desenvolvimento dos alevinos
Se o seu foco é reprodução, controle de nitrato é obrigatório.
5. Crescimento lento
No longo prazo, o nitrato elevado prejudica o metabolismo e compromete o desenvolvimento dos peixes. Eles não crescem como deveriam, mesmo com boa alimentação.
E o que o nitrato causa nas plantas e no sistema aquático?
Aí vem a parte curiosa. Na aquaponia, o nitrato é ouro puro.
É o principal nutriente para:
- alface
- rúcula
- couve
- manjericão
- espinafre
- plantas folhosas no geral
Mas nem tudo são flores (literalmente).
Se o nível for muito baixo, as plantas ficam amareladas. Se for extremamente alto, elas também sentem — mas isso raramente acontece, porque elas consomem rápido.
Em aquários, por outro lado, nitrato alto causa:
- algas verdes
- água esverdeada
- plantas travadas
- folhas queimadas em algumas espécies
Ou seja: cada sistema responde de um jeito.
Como reduzir o nitrato na água?
Aqui vai o que realmente funciona:
1. Trocas parciais de água
É rápido, simples e eficiente. Se o nitrato estiver muito alto, troque 20–30% da água.
2. Plantas — a melhor solução natural
Plantas aquáticas, hortaliças ou sistemas de aquaponia são campeões em sugar nitrato.
3. Reduzir alimentação
Quanto mais comida entra, mais nitrato você produz.
4. Aumentar a filtragem biológica
Um bom biofiltro ajuda a estabilizar o sistema e evita picos.
5. Evitar superlotação
Muitos peixes = muito nitrato.
6. Sistemas de desnitrificação
Utilizados mais em aquarismo marinho e piscicultura avançada.
Conclusão: Nitrato é inevitável, mas totalmente controlável
Se tem uma coisa que eu sempre digo é:
O nitrato mostra o quanto seu sistema está equilibrado.
Ele é:
- o fim natural do ciclo do nitrogênio
- o vilão silencioso nos aquários
- o nutriente essencial nas hortaliças da aquaponia
- um indicador claro da saúde dos peixes
- fácil de controlar com bons hábitos
A chave é simples: medir, entender e agir. Quando você domina isso, seus peixes crescem, suas plantas explodem de vitalidade e a água fica clara, limpa e estável.
